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Manifesto Greve Global Pelo Clima: Ruína ou Revolução


O cenário climático catastrófico em que vivemos é para onde nos levou a história de séculos de exploração e opressão. Esta trágica conjuntura não é simplesmente resultado dos excessos do sistema, nem culpa de hábitos individuais da grande maioria da população. O colapso que vivemos hoje é o resultado do desenvolvimento de um modelo socioeconômico e produtivo essencialmente falho, que precisa ser substituído urgentemente. Para compreender corretamente a estrutura desse sistema, é imprescindível percebê-lo como um fenômeno mundial, no qual o subdesenvolvimento dos países do Sul Global faz parte dos processos que resultaram, e até hoje mantêm, o desenvolvimento do Norte Global. A submissão dos países periféricos, originalmente pautada no colonialismo, adquiriu novas conformações imperialistas que possibilitaram a manutenção dessa ordem na qual a dominação e a violência representam a base da geração de riquezas para o Norte Global e seus aliados.

A totalidade das relações sociais, políticas, econômicas e ambientais perpassa não só a nacionalidade - ligada à geopolítica imperial exploratória - mas também aspectos de raça, etnia, gênero, classe e orientação e identidade sexual. A desigualdade que marca a contribuição de cada grupo social para o agravamento do aquecimento global é inversamente proporcional ao impacto das consequências sofridas, decorrentes desse problema. Assim, as pessoas marginalizadas, com menos acesso à saúde de qualidade, à moradia segura, à água tratada e a alimentos frescos e naturais, tornam-se, mais uma vez, as mais afetadas pela exploração do sistema e pelas adversidades naturais resultantes de seu modo de produção. Dessa maneira, o racismo ambiental se torna mais uma prova de que o capitalismo é incapaz de incluir em seu funcionamento uma agenda verdadeiramente sustentável, do ponto de vista natural e social. É a contradição que jaz no fato de que o capitalismo não pode acabar com aquilo que o sustenta, com a opressão que preserva o modo de vida da burguesia, majoritariamente branca.

No nosso contexto e no de todo o Sul Global, a ruína não é uma preocupação futura, e sim uma realidade presente. As catástrofes climáticas já estão acontecendo e devem se intensificar. Ao longo dos últimos anos, presenciamos tempestades de areia em São Paulo; enchentes sem precedentes como na Bahia e em outras localidades; desastres como o de Petrópolis; crises hídricas em diversas regiões do país. Enquanto o planeta dá sinais cada vez mais claros do desequilíbrio ecológico, a burguesia brasileira (especialmente o agronegócio) e seus representantes no governo, realizam uma ofensiva contra a natureza e o povo. O pantanal ardeu em chamas no ano de 2020 como nunca antes na história; povos indígenas, quilombolas e tradicionais sofrem ataques constantes, legitimados pelo governo; o desmatamento da Amazônia aumenta a cada ano e a destruição do Cerrado já passou de 50% de sua área original. Durante a pandemia, que já é um sintoma do desastre ambiental, o agronegócio brasileiro bateu recordes de exportação, enquanto o povo fazia fila para comer osso de boi. O projeto de desenvolvimento daqueles que estão no poder não tem nenhum interesse de atender os desejos e necessidades da população. Em governos genocidas e ecocidas como o de Jair Bolsonaro, esses grupos ganham ainda mais força para oprimir e explorar o povo enquanto destroem a natureza a todo vapor. Não podemos deixar esse tipo de atitude passar impune. Nem mesmo em governos progressistas podemos nos dar ao luxo de baixar nossa guarda. A história brasileira, desde a colonização, mostra que uma relação harmoniosa com a natureza nunca foi prioridade. Sem organização popular não teremos chance de reverter o colapso ambiental.

Quando a realidade é ruína, nós temos que lutar pela revolução. Precisamos deixar de lado o moralismo e nos articular popularmente: entender que a luta climática também é uma luta de classes, na qual a classe trabalhadora é protagonista! Somente a luta e os conhecimentos ancestrais e contemporâneos dos países marginalizados podem trazer soluções viáveis ​​para que uma crise ainda maior não aconteça. A construção da nossa alternativa anti-sistêmica exige ações e reformas presentes que mobilizem a classe trabalhadora, sempre com o objetivo de construir uma base revolucionária que acabe de vez com o sistema capitalista. Assim, lutamos por políticas de promoção de iniciativas agroecológicas, como as CSA’s (Comunidades que Sustentam a Agricultura), que, contrapondo a lógica do agronegócio de monocultura extensiva voltada para a exportação, buscam promover a soberania alimentar por meio do incentivo a uma relação mais harmoniosa e direta entre campo e cidade e permitem a valorização do trabalhador rural e o respeito às propriedades e aos ciclos naturais do bioma onde está inserido. Para que a revolução seja possível, é estritamente necessária a defesa do protagonismo de povos tradicionais indígenas e quilombolas, que só poderá ser alcançada pela participação plena dessas comunidades nas decisões políticas, pela proteção e reconhecimento de sua cultura e seus saberes e pela promoção da soberania sobre seus territórios. A luta socioambiental também inclui a luta para que as instituições públicas trabalhem pelas reais necessidades do povo, e não a mando do capital e sua perspectiva insustentável de lucro acima da vida e do bem estar social. Acima de tudo, essas mudanças dependem da mobilização e organização, afinal, somente a luta popular é capaz de emancipar a classe trabalhadora!

Estamos morrendo no presente e, portanto, não podemos depender daqueles que mostram descaso enquanto afirmam estar "tomando todas as medidas razoáveis". Enquanto o lucro for mais importante que a vida, não há argumentos que convençam os que estão no poder. Conferências, relatórios e reuniões, ao excluírem povos indígenas, quilombolas, camponeses e periféricos dos debates e negociações, estão fadados ao fracasso, representado por falsas soluções de mercado que somente fortalecem a possibilidade irreal de um “capitalismo consciente” formado por grandes “corporações verdes”. Embora seja importante ocupar esses espaços, é necessário lutar por justiça socioambiental pensando em alternativas anti-sistêmicas ao capitalismo. Fazer qualquer coisa menos do que construir uma revolução internacional hoje seria ruinoso! Por isso, convocamos a todes, em especial jovens, para no dia 25 de março, às 15h, se reunir em frente ao Congresso Nacional para mostrar nossa indignação e resistência perante os abusos do capital. É ruína ou revolução!

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