Escrito por Wanderson Souza e Anna Dettmar
Acompanhamos nos últimos quatro anos os vários retrocessos do governo Bolsonaro; a boiada se infiltrou através de várias canetadas e movimentações do próprio legislativo em prol dos interesses de garimpeiros e ruralistas, as políticas ambientais e instâncias de fiscalização foram drasticamente afetadas. E no caminho dessa marcha de destruição e injustiça estão os povos indígenas Yanomamis.
Guardiões do norte da Amazônia, preservam a milênios o berço de uma das maiores biodiversidades do mundo. Com seus corpos e cantos, resistem de forma completa e ainda tentam enxergar bonança em uma realidade cercada por máquinas e pela ganância do capital.
As ondas de invasão da Amazônia nascem com os grandes projetos de levar o falso desenvolvimento a essa região utilizando um discurso de expansão. Acompanhamos – desde a chegada da colonização – as várias marchas que trouxeram o território ao seu pior estado de alerta nos últimos tempos; segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), a área desmatada da Amazônia em 2022 foi 8 vezes maior que a extensão da cidade do Rio de Janeiro, se tornando a pior marca dos últimos 15 anos.
Mas quem financia toda essa destruição e saqueamento? A que corpo está conectada a mão que se suja de sangue para extrair ouro ilegal em plena luz do dia no pulmão do mundo?
A resposta se encontra nas próprias estruturas do nosso falho sistema econômico. Uma vez que continuamos sendo a fazenda do mundo, nossos arranjos nos força a permanecer na posição de colônia, para que o capitalismo funcione é preciso que os países ditos de “terceiro mundo” continuem sendo explorados com a única função de alimentar a barriga do rei que é sempre faminta.
Na ponta para fazer a máquina continuar se movendo estão estruturas bilionárias cavando o solo das terras indígenas Yanomami, matando e devorando quem vem à frente por suas dragas. Segundo reportagem do Amazônia Real, parte do ouro que é saqueado escoa para grandes compradoras internacionais, gerando riqueza para grandes potências em seus bancos internacionais. O esquema de extração de ouro em terras indígenas é intrinsecamente estruturado e engloba empresas de logística, de aviação, de escoamento, de pessoal e até de órgãos governamentais que – em tese – seriam de proteção.
A conta chegou há muito tempo nos territórios Yanomamis; ela trouxe fome e doença, trouxe a pobreza e a morte para vários guardiões; o ouro se tornou uma peste, uma sina para quem sempre deu sua vida pela vida da nossa tão importante floresta amazônica. Nas últimas semanas os horrores do genocídio praticado pelo estado brasileiro começou a ser televisionado e escancarado para o mundo, mas não é de hoje que tais atrocidades transformam em lama vidas que fogem da curva desse sistema cruel.
Ciclo do Ouro do Sangue Yanomami
Precisamos ser enfáticos e dar nome aos bois, o ouro sujo e podre que alimenta o bolso de grandes empresários precisa ser rastreado e os responsáveis devem ser punidos a rigor pelos crimes cometidos. O sentimento de impunidade que cobre os rastros e alimenta o mercado de ouro ilegal é um dos grandes desafios a se combater. O presente pede por ação, é preciso reestruturar os atuais órgãos de fiscalização, investir em políticas públicas diretas de apoio e principalmente garantir a soberania dos povos Yanomami sobre seus territórios.
Nos tornamos – como diz o grande líder e xamã Davi Kopenawa Yanomami – o “povo da mercadoria”, o lucro passou a valer mais que a vida e a moeda de troca tem sido nosso próprio futuro. A ganância tem engolido o que nos resta de floresta, de biodiversidade e de pluralidade enquanto povo. Em suas palavras: “O garimpo matou a árvore, o rio, o peixe, o meio ambiente. E o ouro sai cheio de sangue. Assim que eu aprendi.”
Referências Bibliográficas
A Terra-floresta e a selva de Pedra, participação de Davi Kopenawa Yanomami. Podcast Casa Floresta. Instituto Socioambiental. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/1Jzwr0HCp74GM7TLZGvHYn?si=30VAfC0-Ri-1SLMwP3oJDQ.
Área desmatada da Amazônia em 2022 é 8 vezes maior que a cidade do Rio, mostra Imazon; marca é a pior em 15 anos. Roberto Peixoto. Portal G1. Disponível: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2022/10/18/imazon-desmatamento-setembro-2022.ghtml.
BOLOGNESI, Luiz. YANOMAMI KOPENAWA. Davi. A última Floresta. Brasil, 74 minutos.
HStern, Ourominas e D’Gold: as principais compradoras do ouro ilegal da TI Yanomami. Guilherme Henrique e Ana Magalhães. Repórter Brasil. Disponível em: https://amazoniareal.com.br/dtvms/.
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. 2015. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras.
"O ouro está sujo de sangue yanomami", diz Davi Kopenawa. Joao Pedro Soares. Portal Made for Minds. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/o-ouro-est%C3%A1-sujo-de-sangue-yanomami-diz-davi-kopenawa/a-64654171.
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